Até o início dos anos 1960, as mulheres com sintomas de síndrome pré-menstrual (SPM), recebiam atendimento por especialistas em ginecologia ou, em escala menor, por endocrinologistas. E mesmo que os sintomas emocionais estivessem evidentes, era raro que a elas fosse oferecido algum acompanhamento em Saúde Mental. Ao longo dos anos, entretanto, as características psiquiátricas da síndrome passaram a receber atenção, e ainda em 1985, quando da revisão DSM-III, foi organizada uma comissão da Associação Psiquiátrica Americana (APA), com o objetivo de avaliar a inclusão de um subgrupo ligado às alterações pré-menstruais, identificado pela recorrência de sintomas emocionais e de mudança de comportamento, significativos sob o ponto de vista clínico, e apresentando potencial para afetar as pacientes sob as perspectivas familiar, laboral e social.
Existem cerca de 150 sintomas identificados, entre físicos e emocionais, que podem afligir as mulheres no período pré-menstrual. E segundo a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), até 90% das mulheres brasileiras podem sofrer com um ou mais desses sintomas na segunda fase do ciclo menstrual. Esta condição é interpretada apenas como síndrome de tensão pré-menstrual. Ou, a já bastante divulgada: TPM.
A partir da quinta versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), publicada em 2019, o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) é identificado como doença mental. Caracterizado como uma manifestação recorrente nas duas últimas semanas do ciclo menstrual, observados na maioria dos ciclos menstruais pelo período de um ano. E tem os sintomas descritos como: alterações de humor, distúrbios do sono, ansiedade, irritabilidade, depressão, letargia e mudanças no apetite, entre outros.
Simplificadamente, SPM ou TPM e TDPM afetam as pacientes quase no mesmo período e apresentando alguns sintomas similares, mesmo que em intensidade distinta. Porém, o Transtorno Disfórico é mais complexo e exige acompanhamento especializado em longo prazo, enquanto para as primeiras, tratamentos paliativos, somente durante o período agudo, costumam ser suficientes.
Na SPM/TPM, que ocorre entre três e sete dias antes da menstruação, os sintomas são predominantemente físicos, tais como dores de cabeça, cansaço, sonolência, inchaço e sensibilidade nas mamas, mas também podem estimular estresse e alterações de humor, conforme as características de cada mulher. O TDPM se apresenta como um quadro de depressão cíclica maior (até 15 dias antes do ciclo menstrual / regredindo com o início da menstruação), que afeta diretamente a estabilidade emocional da mulher, gerando sintomas como tristeza, isolamento, irritabilidade, agressividade, indisposição e depressão.
Mulheres que sofrem com TDPM representam a parcela entre 3 e 7% da população, enquanto as que sentirão os desconfortos “rápidos” da TPM, regularmente, somam até 40% do universo feminino, segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). As primeiras, infelizmente, ainda podem sofrer ou não com TPM também. Porém, devido ao transtorno, durante períodos cíclicos bem identificados, o seu cotidiano pessoal e profissional poderá ser severamente afetado, e na maioria dos casos, os tratamentos especializados figuram como recomendação inevitável.
Entre os métodos de tratamento usados para minimizar o sofrimento emocional e comorbidades advindas do TDPM, há programas para uso de contraceptivos, analgésicos, reorganização nutricional e sobre hábitos regulares – tais como: qualidade do sono, atividades físicas e exposição emocional – além de acompanhamento psicoterápico e, em diversos casos, tratamentos com antidepressivos e/ou ansiolíticos. Porém, é imperativo que todas as intervenções sejam empreendidas sob a supervisão de especialistas, não raro trabalhando em conjunto. E especificamente para os tratamentos com medicamentos, devem ser elaborados programas multidisciplinares, por períodos longos, para tratamento do transtorno / doença, e não apenas dos sintomas. Tomar medicamentos somente no período em que os sintomas aparecem é errado e, em muitos casos, poderá agravar o quadro.