O câncer de próstata é conhecido como uma doença do envelhecimento masculino, ou seja, aumenta a sua incidência com a idade. Após os 50 anos, um em cada 6 homens apresentará a doença e esta frequência aumenta com o avanço da idade. Todo homem que chegar aos 100 anos de idade será acometido pelo câncer de próstata, porém a neoplasia, nesta idade, geralmente não traz repercussões à sua saúde. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados 68 mil casos novos de câncer na próstata no Brasil em 2018, e cerca de 14 mil mortes por esta doença. Este é o segundo câncer mais frequente no homem, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma. É o quarto mais frequente na população, incluindo homens e mulheres. O rastreamento para o câncer de próstata (PSA e toque retal) é recomendado pela Sociedade Brasileira de Urologia, anualmente, para todos os homens dos 50 aos 75 anos. Homens negros ou com história familiar, pai ou irmão, de câncer de próstata, apresentam maior risco de desenvolver a doença, e por isso devem iniciar o rastreamento à partir dos 45 anos. Um estudo recente, realizado na Califórnia, USA, com mais de 400 mil homens mostrou que o rastreamento anual do câncer de próstata, além de reduzir a mortalidade relacionada a esta doença em 64%, reduziu também, em 24%, a mortalidade por outras causas, ou seja, o homem que faz seus exames de próstata anualmente acaba se cuidando melhor de forma geral.
Existem duas doenças que coexistem na próstata, a hiperplasia, que é benigna e ocorre no centro da próstata ao redor da uretra e o câncer de próstata, que é maligno e ocorre na periferia. O câncer, em sua fase inicial, por estar longe da uretra, não causa sintomas. Quando o paciente apresenta a neoplasia em sua fase inicial e tem sintomas urinários, estes se devem à hiperplasia benigna, que comprime a uretra e dificulta a micção. Assim recomenda-se aos homens que não esperem os sintomas aparecer, pois se não houver compressão uretral pela hiperplasia, não haverá sintomas. A detecção precoce é importante para evitar o diagnóstico em fase avançada, quando não há chance de cura, e facilitar o tratamento, evitando suas complicações e sequelas.
Importante mencionar que o câncer de próstata não é uma doença uniforme. Existem diversos tipos, com diversas apresentações, diferentes índices de gravidade e diversos padrões de agressividade, desde os qualificados como “indolentes” que não progridem e não causam qualquer repercussão à saúde, até os mais agressivos, que por serem muito diferentes do tecido prostático, não produzem o PSA, dificultando o diagnóstico pelo exame de sangue, portanto, uma doença complexa, cuja classificação, diagnóstico e tratamento vêm sofrendo modificações e atualizações muito frequentes, alvo de intenso debate e pesquisas na sociedade médica.
Neste contexto, o rastreamento populacional do câncer de próstata recebe críticas por fazer diagnóstico de tumores que não necessitariam de tratamento, indolentes, implicando em excesso de tratamento e sequelas ou, no mínimo, impacto emocional ao paciente, e custos ao sistema pelos exames repetidos na vigilância ativa dos casos não tratados. É importante esclarecer e ressaltar que o rastreamento NÃO faz o diagnóstico de câncer na próstata, isto é feito através da biópsia. Então é a biópsia que deve ser indicada com critérios, selecionando os pacientes, discutindo com o paciente e sua família, os prós e contras da biópsia, no sentido de se evitar o diagnóstico de tumor indolente e não deixar passar um tumor clinicamente significante. A ressonância magnética já nos ajuda atualmente nesta decisão e outros exames estão chegando para nos auxiliar a diferenciar os pacientes que precisam ou não de biópsia. Exames genéticos já nos ajudam, depois da biópsia, a diferenciar tumores indolentes dos clinicamente significantes. O rastreamento deve ser feito, e seu principal objetivo é evitar o diagnóstico tardio, por outro lado, a indicação da biópsia deve ser criteriosa para se evitar o “excesso” de diagnóstico de tumores indolentes.
Prof. Dr. Luis Gustavo Morato de Toledo, Chefe do Serviço e Professor Adjunto da Disciplina de Urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.